quinta-feira, 23 de maio de 2013

Laura Gabriela Pinto Turma: 193 23/05/2013

     Bom tempo sem tempo
     Não chovia, a meses a fio. Ou chovia demais. As plantas secavam, os animais morriam, os moradores emigravam. As plantas submergiam,  os animais morriam, as pessoas não tinham tempo de emigrar. Assim era a vida naquele lugar privilegiado, onde medrava tudo para todos, havendo bom tempo. Mas não havia bom tempo. Havia o exagero dos elementos.
     O mágico chegou para reorganizar a vida, e mandou que as chuvas cessassem. Cessaram. Ordenou que  a seca findasse. Findou. Sobreveio um tempo temperado, ameno, bom pra tudo, e os moradores estranharam. Assim também não foi possível, diziam. Podemos fazer tantas coisas boas ao mesmo tempo que não há tempo para fazê-las. Antes, quando estiava ou chovia pouco - isto é, no intervalo das grandes enchentes ou das grandes secas - , a gente aproveitava para fazer alguma coisa. Se o sol abrasava, podíamos fugir. Se a água vinha em catadupa, os que escapavam tinham o que contar. Quem voltasse do êxodo vinha de alma nova. Quem sobrevivesse à enchente era proclamado herói. Mas agora, tudo normal, como aproveitar tantas condições estupendas, se não temos capacidade para isto?
     Queriam linchar o mágico, mas ele fugiu a toda.
                                                      ANDRADE, Carlos Drummond 


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